sexta-feira, 9 de julho de 2010

Não quero troco.

- Quer mais alguma coisa, senhor?

- Não, obrigado. Traga-me a conta, por favor.

Estava ali, tomando seu café e olhando pela janela ela indo embora, mesmo quem estava lá não poderia imaginar o quanto ele estava triste, as últimas palavras ditas por aquela moça o afetaram de uma maneira até estranha.

- Não é bem assim... Eu estive falando com o Daniel e acabei lembrando-me de algumas coisas.

- Ah, moça... Você ainda o ama e sabe disso.

- Não é amor, eu já te disse. É algo diferente, algo que não consigo explicar mesmo que eu tente, mas eu sei quando não é amor.

Para ele não havia nenhuma necessidade de explicação, sim era amor, aquela garota nunca conseguia perceber os reais sentimentos que tinha, tentava criar coisas, ideais, paixões que nunca iriam superar o que ela sentia por aquele homem.

O sorriso dela já não bastava, ele queria mais. Já havia escutado da boca dela tantas vezes um “eu te amo”, já havia sentido o calor do corpo dela tantas vezes, mas em nenhuma das vezes conseguiu achar que aquilo era o certo, ele não sentia preencher o vazio dentro de si, procura algo que pudesse amar, e via ali partir alguém que ele simplesmente queria ao seu lado, embora soubesse que provavelmente nunca teria, afinal, ele não tem nada de diferente para oferecer.

Pega a conta do café-bar, seu casaco que estava na cadeira e deixa sobre a mesa uma quantia, até maior do que a necessária e sai, sem esperar pelo troco, sem esperar por nada.

Andando pela cidade e olhando o céu totalmente distraído, houve um momento que por sua distração poderia até ter causado um acidente. Ao chegar à praia, procura um ponto na orla onde pudesse ficar só. Estrelas atraiam sua a mente, sendo uma mais bela que a outra, até as mais simplórias, para ele se tornavam perfeitas. Ele via a lua surgir ao longe, era minguante, dava para ver apenas meia-lua, alaranjada ainda.

Começava a pensar em tudo, nos amigos, parentes, amores, presente e passado, e a pensar o que o impedia de ali se jogar no mar, deixando as águas levarem-no para onde for, de preferência apenas seu cadáver, sujo e infeliz.

Um último sorriso, um último pensamento ergue-se no banco onde estava sentado, vira-se de costas e estira os braços.

Andando devagar, voltando às calçadas, olha uma última vez para o céu e para o mar, um último olhar no seu coração e na sua mente... Existem muitas pessoas que iriam sofrer se eu partisse, eu fico por eles, e por ninguém mais.

Sorriu, e apenas andando, andando sem falar, sem pensar, sem mais nada, esperando um único momento, o de poder abraçar alguma dessas pessoas e poder chorar, chorar tudo que precisa e simplesmente desabar nos ombros de alguém importante. Sendo um “Obrigado” a única coisa que diria, o último pensamento que iria querer ter.

3 comentários:

  1. Muito bom o texto, assim como os muitos outros que sei que estão por vir. Parabéns pela inciativa de criar o blog e expor seus trabalhos, vou estar acompanhado ^ ^

    ResponderExcluir
  2. adorei...parabens por esse dom!!sucessos...

    ResponderExcluir
  3. fofo e triste.
    conhecia esse seu lado! =)

    ResponderExcluir