segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Rotina da Solidão

*Uma porta se abre, ele entra, aproxima-se de uma pequena cômoda deixando algo.

Sabe... Eu estive lembrando aquele dia que fomos ao parque enquanto vinha para cá, você estava toda alegre, pois iria pela primeira vez a um encontro, lembra disso? A todo instante você lembrava isso para mim, com um sorriso estampado no rosto, era simplesmente mágico.

Andamos o dia todo por lá, vimos os animais e você até ficou com pena por estarem em cativeiro, me lembro quando você segurou no meu braço bem forte dizendo, “Ah! Porque eles deixam os animaizinhos presos, eles são tão mais felizes livres”, eu sorri com sua ingenuidade, mas era compreensível, você mal havia saído de casa até aqueles dias, passava muito tempo presa, isso eu tenho certeza.

Ah! Você lembra também do nosso primeiro jantar em família, foi hilário, meu pai começou a contar aquelas velhas histórias sobre o que o exército brasileiro fez durante a primeira guerra, seus pais pareciam adorar, e eu ainda mais adorando aquilo, pois sempre que te olhava, via seu sorriso novamente, nada poderia pagar aquele sorriso para mim, perfeito, terminamos aquele dia felizes, pois nossos pais mostraram que apoiavam nosso relacionamento.

*Ele vai até a janela, começa a olhar tudo do lado de fora.

Você tem uma vista maravilhosa daqui, um grande jardim, um céu tão vasto, além de que deve receber muitas visitas, eu soube que o Jorge veio aqui por esses dias, faz tanto tempo que não falo com ele, desde o colégio, tenho até que ligar, marcar algo, uma cervejinha, quem sabe, ai iria eu, você, ele e a Flávia mulher dele.

*Volta-se novamente a ela, sorrindo senta-se próximo e a segura pela mão.

Temos que voltar a ir ao parque, ter mais jantares em família, sair com nossos amigos, tudo isso é tão divertido.

*Uma suave lágrima escorre, caindo sobre a mão do casal.

Deixa-me ver teu sorriso mais uma vez, aproveita este dia tão lindo e me deixa ver novamente teu doce sorriso, que há tempos não tenho mais visto.

*Mais lágrimas, ele pega um buquê, que havia trazido consigo, levantando-se retira as antigas rosas as substituindo pelas novas.

Lembro-me também de quando você foi cheirar aquela rosa toda feliz, dizendo o quanto adorava flores e aquela abelha saiu te perseguindo, você estava apavorada, e desculpe, mas eu não conseguia parar de rir da situação, devo ser um péssimo namorado não?

*Entra no quarto uma mulher.

Senhor, já terminou o horário de visitas, deve se retirar para que ela possa descansar.

*Ele ainda de pé, senta-se novamente na cadeira ao lado da cama, segurando sua mão, a traz até seu rosto a beijando, sorri olhando a face dela, tão calma ali deitada, sem ter aberto seus olhos, e ele sorri, ergue-se indo até a porta e lá parando, volta seu rosto para ela.

Até amanhã.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Repulsão, mas até onde?

- Para de me seguir, já disse que não te quero perto de mim.

Mas ela continuava não me deixava respirar, o colégio já não era um local agradável, meus amigos reclamavam que eu não tomava atitude, mas o que eu poderia fazer? Bater nela, matar ela, eu não faria algo assim, não conseguiria.

Faz dois anos desde que ela começou com isso. No começo pareceu ingenuidade, veio com uma cartinha, depois começou a tentar se enturmar era até legal, ela é uma garota bem bonitinha, mas não fazia meu tipo, eu sempre procurei aventuras, e ela, estava fácil demais.

O problema foi quando ela resolveu se declarar abertamente, disse que me amaria para todo sempre, e várias palavras tão idealizadas que começaram a me dar nojo.

Fui até ela e pedi que nunca mais fizesse aquilo, ela parecia não me ouvir, seus olhos demonstravam obstinação, me pareciam até o olhar de uma louca, mas claro não disse isso a ela, apesar de tudo ela já fazia parte do meu grupo e seria ruim toda esta situação ali entre eles.

Não parou, o que eu disse realmente entrou por um ouvido e saiu pelo outro, ou por onde seja, ela começou a querer me perseguir, ela andava ao meu lado dizendo o quanto me amava, já estava ficando chato. Ela me seguia até em casa, não poupava esforços para tentar me conquistar, mas já estava se tornando uma obsessão, e isso me irritava.

Ao sair do colégio eu corria, com a intenção de não dar tempo de ela me encontrar, do que adiantava? Ela sempre estava a minha espera, às vezes eu pensava até que ela deixava de assistir as aulas à espera deste momento.

Tentei novamente falar com ela, frustrante, até meus amigos já estavam se irritando e falaram com ela... nada, ela parecia não querer ouvir ninguém, ela criou um desejo obsessivo insuportável por mim, e eu já não sabia o que fazer, até que um dia algo diferente aconteceu, eu ouvia berros, gritos, uma multidão estava se juntando em frente ao bloco em que eu estudava, este que também era o mais alto.

Fui correndo por curiosidade ver o que acontecia. Era ela, estirada ao chão, escutei algumas pessoas sussurrarem que ela havia se jogado gritando meu nome, eu entrei em pânico, como aquela garota faz algo como aquilo, fui logo até o diretor e conversei com ele, fui aconselhado a falar com a polícia quando chegasse, fiquei a espera na sala do diretor até que alguns policiais vieram e conversaram comigo sobre toda a situação, fui chamado para depor três dias depois, e no fim das contas nada aconteceu comigo, bem, talvez tenha.

Dias chatos se sucederam, nada de novo, nada de interessante, era irritante estar com todos, nada ali me alegrava, ao contrário, eu me sentia mal, alguns vinham perguntar o que estava acontecendo, eu definitivamente não sabia.

Não, eu sabia sim, era ela, o que me faltava ali era aquela pessoa que todos os dias demonstrava seu amor por mim, nunca aparentava desistir, como ela resolveu se jogar? – lágrimas caem sobre o papel – Eu demorei a entender, ela me fazia bem, diante de tantas pessoas que mentiam sempre para mim, ela era sempre tão verdadeira, mas porque ela se matou, ela sempre foi tão forte... é, só pode ser dela que eu sinto tanta falta, então esta na hora de parar com isto, vou atrás dela, isso, vou corrigir meu erro, pedir desculpas a ela, dizer que a amo, sim, essa é a única escolha a fazer... lá vou eu...

** Uma folha de papel caia na varanda do último andar de um edifício de 23 andares, talvez pareça sugestivo o número, talvez isso realmente seja apenas um jogo de azar, ou como em um filme estrelado por Jim Carrey, mas se o que a religião diz for verdade, eles vão se encontrar, pois dois suicidas devem ir ao mesmo lugar, sofrer juntos, e quem sabe... bem o resto vocês já devem supor **